Purgatório é um pequeno bar de aperitivos localizado no bairro dos Pinheiros, em São Paulo. Inspirado nos bares de tapas de Portugal e do sul da Espanha, a sua ambiência concilia uma visualidade pulsante e irreverente com resgates de lugares antigos, tradicionais. Os contornos elegantes da marcenaria e dos caixilhos de madeira convivem, assim, com o protagonismo da cor vermelha dos revestimentos, com a qual se invoca o vinho consumido no local e o teor religioso do nome: purgatório é nem céu nem inferno, “é o estado e o processo de purificação ou castigo temporário em que as almas daqueles que morrem em estado de graça são preparadas para o Reino dos Céus”.
Já na entrada, a fachada revestida com azulejo de vermelho intenso e brilhante anuncia a dramaticidade dos interiores e contrasta com a tonalidade amarela da madeira do par de caixilhos. Alinhados em altura e desenhados com o mesmo princípio de emoldurar ora painéis de vidro ora o próprio azulejo em uma conformação que lembra portas-balcão, de um lado a janela até o chão tem uma abertura horizontal que comunica o exterior com o bar e, do outro, está a porta de ingresso. Os caixilhos permitem a ampla visualização dos interiores e o pátio de entrada acolhe mesas e banquetas de modo a enfatizar a descontraída presença do bar no espaço externo.
O piso de mosaico português se prolonga nos interiores numa relação de continuidade que é característica do projeto e cujo destaque é a aplicação do mesmo azulejo vermelho da fachada e do balcão do bar no teto do salão central. Nele, luminárias antigas com vidro craquelado e base dourada reverberam o traço tradicional da marcenaria, cujas molduras com arestas arredondadas estão presentes na caixilharia, nos quadros aplicados sobre a parede do bar e na moldura do teto. Um armário de madeira especialmente desenhado para o projeto é também vitrine para o armazenamento e exposição dos pães do cardápio e, na sua frente, sobre a bancada de mármore vermelho, uma prateleira alta e fixada no teto serve para a mostra das garrafas de bebidas.
As paredes laterais e de fundo do salão central foram descascadas, mas não se vê diretamente os tijolos aparentes. Telas metálicas perfuradas foram sobrepostas a eles e no pequeno afastamento entre os materiais inseriram-se luminárias contínuas e de luz indireta, dispostas na horizontal. Além de criar um grafismo que contrasta com a paginação e a textura dos revestimentos, tal solução amplia visualmente as dimensões do ambiente porque confere efeito tridimensional às paredes.
O pavimento superior foi projetado para acolher eventos temporários e a intervenção estrutural de maior impacto ocorreu nos fundos do imóvel, onde ambientes que eram compartimentados foram unidos para abrigar a cozinha. Ela é reservada mas se comunica com o pátio lateral dos fundos através de pequenas janelas altas. Este corredor lateral está equipado com bancada contínua e banquetas e, descoberto, tem faixas vermelhas percorrendo as altas paredes brancas que o cercam.
Rua dos Pinheiros, 436 / Pinheiros / SP
LOCALIZAÇÃO
2021
ANO DE PROJETO
150 m²
ÁREA
Veronica Molina
Bianca Sinisgalli
Luisa Oliveira
Vitor Penha
EQUIPE
SQ2 Engenharia
EXECUÇÃO DA OBRA
Alexandre Disaro
FOTOS